segunda-feira, 24 de novembro de 2008

REINO DA IBÉRIA: RESUMO HISTÓRICO

A região do Cáucaso hoje ocupada pela República da Geórgia (em georgiano Sakartvelo) era habitada por várias tribos aparentadas entre si, principalmente os Moschi e os Sasper que acabaram por constituir (dentre outros) o reino de Kartli, cujo nome é uma referência ao nome de seu mítico chefe e fundador, Kartlos. Segundo alguns estudiosos, Kartli deriva de Kartu, lugar vedado, fechado.
A denominação estrangeira Geórgia, utilizada por grande parte das línguas do mundo, vem do persa گرجی (Gurji), por intermédio do árabe Jurj. Este por sua vez sofreu influência do prefixo grego γεωργ- (geōrg-), o que levou a se acreditar que o nome derivaria do seu santo padroeiro, São Jorge, ou do termo grego para cultivar, γεωργία (gueōrguía).
Possivelmente o nome Ibéria que os antigos autores greco-romanos aplicaram ao reino de Kartli derive do nome do povo Sasper( >Speri >Hberi >Iberi). Os Moschi migraram para o noroeste e sua principal tribo deu nome a capital do reino: Mtskheta.


Acima, a moderna cidade de Mtskheta

Situada na junção dos rios Mtkvari e Aragvi, Mtskheta estava estrategicamente situada entre os mares Cáspio e Negro, entre a Europa e a Ásia.
Os autores medievais georgianos designam o primeiro assentamento iberiano como Arrian-Kartli, sob o governo persa da dinastia aquemênida. Após isso, foram governados por um príncipe local conhecido pelo título de Mamasakhlisi ("o pai de família"). Outras fontes atribuem a fundação do reino a um tal de Azo que teria sido um general de Alexandre, o Grande (356-326 a.C.) que exterminou a dinastia local e conquistou o território, sendo expulso posteriormente pelo kartli Pharnazaz I (299-234 a.C.).
Pharnazaz I (tido como primeiro rei de fato da Ibéria) ampliou os domínios do reino, reformou a língua escrita e a administração; seus descendentes levaram a Ibéria a um período de prosperidade e esplendor, apesar das inúmeras guerras travadas contra invasores.
Destas guerras, por fim, a Ibéria acabou por ceder algumas de suas províncias meridionais aos reinos da Armênia e da Cólquida de onde surgiram alguns principados independentes, os Sceptuchoi.
Ao fim do II século a.C., o rei Farnajom foi deposto por seus súditos e a coroa foi oferecida ao principe armênio Arshak que ascendeu ao trono iberiano em 93 a.C. iniciando a dinastia dos Arshakidas.
Quando da invasão da Armênia pelas tropas romanas comandadas por Pompeu (106-48 a.C.) em 65 a.C., Roma não estabeleceu seu domínio sobre a Ibéria, não obstante esta ter sofrido a invasão dos exércitos romanos. Porém, em 36 a.C., quando os romanos lutaram contra o reino da Albânia (no Cáucaso, não confundir com a moderna Albânia nos Balcãs) marcharam sobre a Ibéria e constrangeram o Rei Pharnavaz II a uma aliança contra o reino da Albânia.

Acima, Ponte de Pompeu em Mtskheta, Georgia

Quando o vizinho reino da Cólquida foi transformado em província romana (69 d.C.), a Ibéria aceitou o protetorado do Império Romano. Uma inscrição em pedra descoberta em Mtskheta fala do rei Mihdrat (58-106 d.C.) como "o amigo dos Césares" e que o “ “rei dos iberos que amavam os romanos." O Imperador Vespasiano (17-79) fortificou o antigo sítio de Arzami em Mtskheta em 75 d.C. para os reis ibéricos.
Nos anos seguintes os romanos continuaram a exercer sua influência sobre os iberos, porém a partir do Rei Pharsman II (116 – 132) a Ibéria retoma seu antigo poder. As relações entre a Imperador Adriano (76-138) e Pharsman II foram tensas, embora Adriano tentou apaziguar-se com Pharsman. No entanto, foi apenas sob o sucessor do Adriano, Antonino Pio (86-161), que relações melhoraram, ao ponto de, segundo o historiador Dio Cássio (155-229), Pharsman ter visitado Roma, onde uma estátua foi erigida em sua homenagem. O período levou a uma mudança importante no estatuto político do Reino da Ibéria agora reconhecido como um aliado de Roma, em vez de seu antigo estatuto como um Estado submisso; a nova situação política manteve-se mesmo durante as hostilidades do Império com os Partas, cujo reino era vizinho da Ibéria.
O ressurgimento do Império Persa sob a dinastia Sassânida em 224 pôs fim ao Reino dos Partos e sendo um Estado forte e centralizado atuou no sentido de que a Ibéria mudasse sua orientação política e fosse deixando a influência romana. Sendo assim, sob o rei persa Sapor I (241-272), a Ibéria pagava tributos à Pérsia. Não obstante, a relação dos dois reinos era amigável, a ponto da Ibéria ajudar os persas em suas campanhas contra os romanos.O rei ibero Amazasp III (260-265) é considerado pelos sassânidas como um alto dignitário do reino persa, não como um rei vassalo submetido pela força das armas. A religião oficial da Pérsia, o Zoroastrismo, foi difundida na Ibéria entre 260 e 290 d.C.
A paz de Nisibis (apaziguamento das hostilidades entre persas e romanos) em 298 d.C. reconhece o domínio romano sobre a região do Cáucaso e Roma reconhece o Rei Mirian III, da dinastia Coisroida, como rei da Ibéria.
A predominância da influência do Império Romano do Oriente (Bizantino) sobre a Ibéria se torna crucial após a conversão do Rei Mirian III ao Cristianismo derivada, possivelmente, do trabalho evangelizador realizado por Santa Nino da Capadócia em 303. O Cristianismo trouxe grande impacto na cultura ibérica além de manter o reino mais ligado aos romanos.
Entretanto, após a derrota dos romanos para os persas em 363, Roma cede o controle da Ibéria novamente à Pérsia. Desta vez, o rei ibero, Varaz-Bakur I (Asphagur) (363-365), não é mais um alto dignitário, mas um vassalo dos persas após a Paz de Acilisene em 387.
O rei Pharsman IV (406-409) preservou a autonomia de seu país e cessou de pagar tributos à Pérsia. Após sua morte, os reis persas impõem sobre a Ibéria um vice-rei persa hereditário (o Pitiarca, derivado do termo persa pitiaxae) e o Zoroastrismo como religião oficial junto com o Cristianismo, sem obter muito sucesso entre a gente comum.
Sob o reino de Vakhtang I (447-502) a Ibéria atravesou um breve período de reavivamento monárquico. Formalmente vassalo dos Persas, o rei investiu contra povos caucasianos do norte e os submeteu à Ibéria. O rei ibero funda uma nova capital, Tbilisi, e inicia uma deseperada guerra pela indepência que dura vinte anos. O rei morre em batalha em 502 e a Ibéria volta ser submetida à Pérsia.
Em 580, o rei persa Ormisda IV (578-590) abole a monarquia após a morte do Rei Bakur III, e a Ibéria torna-se uma província persa governada por um marzpan (governador).
Os nobres iberos exortam ao imperador bizantino Maurício a recriar o reino da Ibéria em 582, mas em 591, os bizantinos e a Pérsia fazem um acordo e repartem a Ibéria, com Tbilisi para os persas e Mtskheta para os bizantinos.
Sendo assim, no início da Idade Média, Ibéria/Kartli perdeu sua importância política. Mesmo assim, de certa forma, manteve-se como líder da área da futura Geórgia devido à independência de sua Igreja e à cultura devida à influência bizantina. Ibéria/Kartli foi parte de um Reino Georgiano na Idade Média central. A Geórgia foi unificada no início do século XI mas Tbilisi, a principal cidade de Kartli, só foi liberada em 1122. Posteriormente, a capital da Geórgia foi transferida de Kutaisi para Tbilisi. Após a desintegração do Reino unido no século XV, Ibéria/Kartli tornou-se um Reino independente, que sofreu frequentes invasões persas. Em 1762, o Reino de Kartli foi unido com o adjacente Reino de Kakheti. Este reino também foi logo enfraquecido pela agressão persa. Em 1801 o reino de Kartli-Kakheti foi anexado ao Império Russo.

Acima: Em 1762, os reinos de Kartli e Kakheti foram unidos sob Erekle II.

Kartli foi parte de uma República Democrática da Geórgia independente entre 1918 e 1921, da RSFS Transcaucasiana entre 1922 e 1936 (cuja capital era Tbilisi, a principal cidade da província e da Geórgia), e da RSS da Geórgia entre 1936 e 1991.
Após a desintegração da URSS em 1991, Kartli é parte da República da Geórgia, a maior e mais populosa província da Geórgia Oriental, e Tbilisi, a principal cidade de Kartli, é a capital da nação.
Além de Tblisi, a província de Kartli é dividida em três regiões administrativas: Kvemo Kartli (cuja capital é Rustavi), Mtskheta-Mtianeti (capital: Mtskheta) e Shida Kartli (capital: Gori). A última região oficialmente inclui o distrito histórico de Samachablo, cuja maior parte da população é de ossetas desde o século XVIII, e que possuia o status de distrito autônomo dentro da República da Geórgia durante o período soviético (1922-1991). Desde a guerra civil osseto-georgiana em 1991-1992, este distrito, agora conhecido como Ossétia do Sul, é um estado independente de fato, embora nenhuma nação reconheça oficialmente sua soberania.



O antigo reino da Ibéria/Kartli: hoje importante província da República da Geórgia, onde se situa sua capital.

FONTES:
Wikipédia, a enciclopédia livre. Versões utilizadas: português, espanhol, inglês e e francês.
Georgian Kingdoms in the Late Antique Period. (the IV cen. B.C. - V cen.). Disponível em:www.parliament.ge

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